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Benchmarking: Medellín e as tecnologias sociais em educação inovadora

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Comitiva (participantes)
Comitiva (participantes) - Foto: Jean-Edouard Tromme
Por Sílvia Nunes

As lições aprendidas de Medellín, cidade colombiana com 2,59 milhões de habitantes, localizada ao norte da América Latina, têm enriquecido o ecossistema de inovação da Serra Ga
úcha já há algum tempo. A trajetória de superação do estigma de cidade mais violenta do mundo, para a cidade mais inovadora passou por um longo processo de aprendizagem desde os anos 1990. 
 

Pautada por uma processo de transformação social e urbana que sustenta uma visão de futuro baseada nas pessoas – os cidadãos paisa – opera numa lógica real de diálogo colaborativo orientado para a educação, segurança e proteção, moradia, emprego, cultura e mobilidade. A estratégia alcança, em seus princípios fundamentais, a dignidade da pessoa humana e o direito ao desenvolvimento. 

Em abril de 2024, uma comitiva multidisciplinar de organizações embarcou para Medellín em uma missão técnica de benchmarking com o objetivo de conhecer o processo histórico de ações em educação inovação social que, por meio de modelo de governança colaborativa, promoveu a implantação de infraestruturas públicas e privadas que tiram partido de tecnologias sociais, mobilidade social e economia criativa para melhorar a vida das pessoas. Todo mundo ganha – a estrutura de governança, a economia local, as pessoas e o meio ambiente. 

A Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sict), por meio do departamento de Ambientes de Inovação tem, desde meados de 2023, instigado o ecossistema regional de inovação da Serra Gaúcha para uma abordagem integral em Cidades Inteligentes, com um olhar para além das tecnologias – o lugar como estratégia simbólica do desenvolvimento. Sendo assim, a região Serra Gaúcha passa a acolher a pauta dos territórios de forma integral, visando a transformação por meio da inovação social, sustentabilidade e sociedade 5.0. Assim, desde uma despretensiosa visita ao Hub Formô (Morro da Cruz, em Porto Alegre) durante o South Summit 2023, movimentos de ativação de conexões e sensibilização foram realizados, configurando uma cadeia de eventos voltados para formação de conhecimento com olhar para a responsabilidade socioambiental dos projetos de inovação, ciência e tecnologia na região. 

A mobilização promovida em torno do tema pelo Inova RS Serra Gaúcha tem culminado em descobertas e novas parcerias, que vão desde a discussão com o poder público, as academias, a sociedade civil, até mesmo na identificação de oportunidades de conexão com projetos socioeducativos de empresas. A exemplo disso, a Fundação Marcopolo articulou uma missão técnica de benchmarking para a Colômbia em abril de 2024. A comitiva multidisciplinar foi composta pela Marcopolo, Fundação Marcopolo, Marcopolo Next, Superpolo (Marcopolo Colômbia), Instituto Hélice, Sebrae, Atitus Educação, Semente Negócios, Grupo RBS e INOVA RS, e ainda convidadas iniciativas culturais como BitBus e participação do happer Chiquinho Divilas. 

Realizada entre 23 à 28 de abril, a programação da missão abordou como temáticas: mobilidade urbana e mobilidade social; cultura e educação como ferramenta da cidadania; cultura cidadã que desenvolve as pessoas; Vale do Software – rede de empreendedorismo inovador; Ruta N – inovação em parcerias público-privadas e visita às Comunas – ambientes que promovem cultura, turismo e a geração de trabalho e renda. Um destaque importante foi conhecer projetos que promovem a educação inovadora, aliando o cuidado com a preservação ambiental e a surpreendente qualidade construtiva das infraestruturas que articulam a produção do espaço urbano na perspectiva do estado de bem estar social. 

  

  • Roteiro 1 – Distrito de Inovação 

    Ruta N (colagem inspiración)
    Ruta N (colagem inspiración)

Curiosidade: o complexo Ruta N possui Selo LEED – certificação internacional de construção sustentável. 

Imagens: Silvia Nunes 

A visita ao emblemático prédio da Ruta N – hub de inovação e parque tecnológico criado para tangibilizar a política pública de Medellín proporcionou o conhecimento das origens de um projeto de desenvolvimento que articula uma rede institucional importante para a ideação de projetos, experimentação e conhecimento, centralizando investimentos para o desenvolvimento de talentos em CT&I, geração de novos negócios e formação de parcerias estratégicas. 

  

O Distrito de Inovação articula ainda outros equipamentos urbanos que promovem o censo de pertencimento e educação, como a Casa de La Música, Parque Explora, Mova e o Planetário – sempre articulados com uma eficiente rede de transportes da mobilidade urbana de Medellín. 

  

  

  • Roteiro 2 – Planes Urbanos Integrales – PUI 

  

Os Planes Urbanos Integrales (PUI) são destaques do planejamento de longo prazo em Medellín. Se trata de projetos de desenvolvimento socioeconômico e planejamento territorial datados dos anos 1990, que abrangem todo o zoneamento da cidade por meio de Comunas (setores urbanos). A partir deste planejamento, as infraestruturas públicas são implantadas por meio de concursos públicos de arquitetura e urbanismo, – em todos os casos, os lugares são providos de infraestrutura urbana completa, que vão desde espaços de creches comunitárias, bibliotecas-parque associadas a equipamentos de lazer e centros de educação e cultura. Em cada Comuna (setor), independente da faixa de valor do uso do solo, são disponibilizadas as mesmas infraestruturas mencionadas, para o atendimento à população local na escala do bairro. O acesso é garantido pelo eficiente sistema de transporte público (metrô e metro cables), garantindo a conectividade do território, bem como a utilização do desenho universal (acessibilidade urbana) nas obras públicas – em todos os casos, de qualidade construtiva impecável. 

  

O Valle del Software, estratégia de Ciência, Tecnologia e Inovação de Medellín, inclui a implantação de Centro de Desarrollo Económico Zonal (CEDEZOs), lugares que abordam aspectos econômicos e inovação em diversas Comunas (10 lugares). Esses espaços são chamados de Centros de Valle del Software que promovem a empregabilidade e a criação de startups ao promover o modelo de reindustrialização na perspectiva da Indústria 4.0. 

Centro de Vale del Software (prédio roxo)
Centro de Vale del Software (prédio roxo)
 
Centro de Vale del Software – espaços diferenciados para atividades do Centro de Desarrollo Económico Zonal (CEDEZO). Foto: Sílvia Nunes. 

C4ta
C4ta

Saiba mais: https://www.medellin.gov.co/es/secretaria-desarrollo-economico/centros-del-valle-del-software/ 

Em Medellín, a economia do conhecimento é sustentada por cinco pilares: (i) talento humano e emprego; (ii) ciência, tecnologia, inovação e empreendedorismo; (iii) política de dados e valor público; (iv) produtividade, competitividade e industrialização e (v) internacionalização. Um dos lugares que tangibiliza essa plataforma é o C4ta - Ciudadela de la Cuarta Revolución Industrial, uma importante edificação que outrora acolheu um presídio feminino e, a partir da estratégia de desenvolvimento territorial que transformou o lugar um complexo de tecnologia a nível mundial. 
Visita à C4ta – Ciudadela de la Cuarta Revolución y la transformación del aprendizaje. Foto: Sílvia Nunes. 

Saiba mais: https://www.medellin.gov.co/es/sala-de-prensa/noticias/medellin-consolida-alianzas-con-cinco-grandes-companias-de-tecnologia-a-nivel-mundial-con-formacion-en-c4ta/ 

  • Roteiro 3 – Distrito Criativo 

  

Este roteiro visita ambientes como Parques del Rio (parque linear que acompanha o percurso do rio), o Distrito Criativo (espaços La Fabbrika, Comfama, Estudio Spotify e Mattelsa). E, ainda, no percurso entre toda essa diversidade de lugares, se revelam 22 reservatórios de água distribuídos na cidade, que foram ressignificados para uso como parques públicos funcionais chamados Unidades de Vida Articulada (UVA), a exemplo da UVA Ilusión Verde que possui instalações de biblioteca pública, escola infantil Buen Comienzo e Inder e Projeto Maluma (La Haus). Nesses espaços, os equipamentos urbanos promovem uma reabilitação urbanística precisa no bairro, ampliando a função básica das infraestruturas, para alcançar um propósito educativo e de socialização coletiva. 

UVA (com a moça com roupa rosa)
UVA (com a moça com roupa rosa)

  UVA – Unidade de Vida Articulada. Foto: Sílvia Nunes. 


Em Medellín, a sociedade aprendeu a dividir problemas e compartilhar conhecimentos, para que pudessem resolver por si mesmos os desafios sociais e econômicos onde o problema social da desigualdade precisaria ser resolvido através do fortalecimento do senso de pertencimento dos cidadãos, da cultura e da educação inovadora. São os pilares da transformação, (i) acordo civil, (ii) a vida como valor supremo e (iii) capital humano.  

  

Nessa estratégia, todas essas ambiências devem apresentar como premissas a integração, por meio de um território conectado (mobilidade social), a proximidade, por meio de acesso a serviços básicos próximo da casa das pessoas e a confiança, por meio da transparência com as compras públicas, contas públicas e fortalecimento da governança da quádrupla hélice. 

  

Em Medellín, as intervenções urbanísticas e ambientais reciclam espaços e ressignificam os lugares onde as pessoas já moram, imprimindo alta qualidade construtiva e agregando valor às entregas. Configura-se assim, um marco temporal de como era nos tempos sombrios e como se encontram hoje os lugares, inibindo antigas práticas de opressão social, que se traduz numa percepção de recomeço às pessoas e impulsionando a mudança da cultura local de forma positiva.  

  

A expressão estética das infraestruturas ambientais, de mobilidade social, de espaços educativos e de empreendedorismo inovador conferiram à Medellín o título de cidade mais inovadora do mundo. Na carona dessa narrativa, a qualificação e enriquecimento ambiental por meio da cultura proporcionou a adoção de tecnologias para o turismo e o fomento ao empreendedorismo, através do desenvolvimento do empreendedorismo local, como os passeios guiados criados pelas próprias comunidades, através de atividades desenvolvidas por jovens moradores locais, por exemplo.  

  

Assim, a estratégia de transformação social colaborativa implementada em Medellín coloca os aspectos simbólicos da identidade local no centro do processo de design e da estratégia de desenvolvimento local. Essa experiência vivida pelos integrantes da Comitiva fortaleceu o senso de responsabilidade com as coisas públicas e de cuidado com as pessoas, cujo impacto tem o poder de transformar uma realidade de violência e medo, para um espírito coletivo de superação de toda uma população sendo exemplo para o mundo e, especialmente neste momento, para o Rio Grande do Sul que age, resiliente, reconstruindo vidas e cidades com a dignidade do aguerrido povo gaúcho. 

 

 

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